21/09/2018

Fragmentos

Um comentário:

Aos poucos, as coisas que me remetiam a você foram apagadas. 

Você já não estava mais nos lugares onde eu costumava encontrá-lo. Os seus livros saíram de minha estante, assim como nossas fotos que cobriam as paredes do quarto onde trocávamos palavras doces e pensávamos que o nosso momento seria infinito.

Não haviam mais mensagens, tampouco ligações. Eu já não sabia mais nada sobre você. Um desconhecido. Como se você desaparecesse de meu mundo, pouco a pouco. Tudo não passava de uma boa lembrança.

Lembrança que como todas as outras começam nítidas, mas depois tornam-se borrões e parecem não passar de um belo sonho, e nós nem ao menos sabemos se realmente aconteceu. 

O que ainda nos mantém reais é a saudade, porque se a sinto, é porque foi verdadeiro. A saudade é o amor que fica depois que tudo acabou e não sobra nada além de fragmentos de memórias.

Fragmentos que com o tempo serão arrastadas pelo vento até não me restar mais nada. Até que realmente chegue ao fim, e eu me torne incapaz de me lembrar de seu rosto, e das incontáveis vezes que me fez sorrir.

Como se nunca tivesse existido.

15/09/2018

Prismático

2 comentários:
Escrito em Maio/2016
Ele amava as tardes ensolaradas de inverno, enquanto eu, a brisa fria das manhãs geladas de verão. Ele era o Sol, abrindo caminho entre as nuvens densas criadas por mim. Eu me perguntava se eu seria capaz de suportar aqueles dias alegres e ensolarados.

Eu era como o inverno, mas não como o inverno que ele amava - eu era o mais frio e tempestuoso inverno.
Ele era como o verão, o mais aconchegante, caloroso e iluminado verão, de uma forma que eu não estava acostumada.

Nós éramos como chuva e sol.
Éramos luz e sombra.
Como dois espectros que não poderiam se misturar.
Pelo menos não de fato, não ao certo.

Senti que estaria me arriscando ao me expor à luz novamente. Seria o fim daquele meu cenário monocromático, de minha calmaria. Eu não sabia se estava preparada para as suas cores.

Por ser medrosa, pensei em abrir mão da luz e continuar a viver no escuro, mas então eu descobri que eu já não pertencia mais àquele lugar, e que sol e chuva formam juntos um belo arco-íris. A sombra jamais existiria sem a luz.

O meu lugar era ao seu lado, em seu universo prismático cheio de cores e vida.